O gato viveu lado a lado com o homem pré-histórico. Desde os primeiros vestígios da sua domesticação até ao século XVIII, o gato simultaneamente amado, eliminado, caçado e venerado – adaptou-se a viver junto ao Homem. Por diversas vezes foi considerado o mais selvagem dos animais domesticados. Aliás, não é verdade que consegue regressar à vida selvagem? E o gato doméstico não é o mais livre de todos os gatos? A sua história inscreveu-se na da espécie felina através dos séculos até aos nossos dias.

Se “domesticar” significa “tornar menos selvagem, menos perigoso” e se “doméstico”, em oposição ao animal selvagem, significa “viver junto ao Homem para o ajudar ou distrair e cuja espécie, desde há muito domesticada, se reproduz de acordo com as condições estabelecidas pelo Homem” (segundo o Dicionário Le Robert), o gato passou a ser verdadeiramente um gato doméstico a partir do momento em que o Homem interveio na sua seleção e reprodução. De facto, mesmo se na sua história com o Homem a espécie evidencia um grande percurso, foi só a partir dos finais do século XIX que surgiu o gato com pedigree. A partir daí, pouco a pouco e de forma magistral, o gato foi-se introduzindo no mundo e meio ambiente do seu dono.




Uma integração bem sucedida

Hoje verdadeiramente domesticado e familiar, o gato doméstico beneficia de um estatuto que marca o seu reconhecimento oficial como indivíduo. Graças às tatuagens e vacinas, o gato pode ser acompanhado pela administração pública, que se encarrega da atualização dos seus documentos. Registado e controlado, quer seja de raça ou não, o gato adquire uma determinada importância aos olhos do dono e impõe-se no mundo regulamentado dos homens.

O Homem, depois de observar mais atentamente as atitudes e reações do gato, passou a compreendê-lo melhor e a respeitar a sua verdadeira entidade. As inovações alcançadas no ramo da medicina preventiva e curativa bem como no ramo alimentar, marcaram o século XX nas áreas da Ciência Veterinária e da Nutrição felina.

Recebendo hoje melhores cuidados por parte do seu dono, o gato consegue evitar algumas doenças. O bem-estar resultante torna-o mais sereno, mais meigo e de convivência mais fácil.

Durante o último século estabeleceu-se um novo relacionamento entre o gato e o homem. O gato, ao tornar-se fiel ao Homem, esbateu as distâncias que antes os separavam e ganhou confiança nos seres humanos.

Depois de ter vivido como caçador, o gato tornou-se muito menos alerta e pode agora relaxar e libertar a sua atenção. Sem a preocupação material da sua sobrevivência, dispõe de mais tempo para permanecer junto ao Homem. Pode assim dedicar-se mais à sua companhia, desfrutando dos mimos e carinhos que lhe são oferecidos. O gato aceitou o Homem como seu amigo, mas, por outro lado, a solidão atormenta-o. É uma situação triste, à qual não convirá expor o gato dos nossos dias. O gato inventou um novo diálogo. Enquanto que antigamente se contentava apenas em responder aos carinhos, hoje interpela o dono, reclama a alimentação e exige que lhe abram a porta. Vai desenvolvendo o seu repertório e, para melhor se fazer entender, varia as entoações. Pelo movimento das orelhas, é possível perceber o que o animal sente.

Portas para gatos, coleiras e trelas, sacos de transporte, troncos de arranhar, casas para gatos, distribuidores automáticos de alimentos… são invenções reservadas ao pequeno felino, que provam que o comportamento e as exigências deste animal foram estudados de forma a enriquecer o seu dia a dia.

Diversificação das raças e gatos padronizados

Fruto de cruzamentos ou resultado de mutações espontâneas, as raças não seriamo que são hoje sem a intervenção do Homem. Em 1871,aquando da primeira exposição felina no Crystal Palace de Londres, foram apresentados ao público 25 classes de gatos. Não se tratava ainda de raças propriamente ditas, havendo mistura de Europeus e Persas com pelagens diferentes. No início do século passado, foram oficialmente reconhecidas 16 raças. Desde essa época deu-se uma grande evolução. Encontram-se atualmente registadas 54 raças de gatos, às quais se adicionam dezenas de variedades de Persas e Orientais.

Este vasto leque de raças felinas presentes em todo o mundo reflete a sua grande diversidade, tanto física como comportamental. Os cruzamentos organizados multiplicaram o número de raças e os seus traços distintos.

Formas e cores

Cabeça redonda ou triangular, corpo esbelto ou maciço… a morfologia felina foi-se progressivamente transformando. O standard descreve 5 tipos de morfologia, que variam do “cobby”, ou seja, curto e maciço (como o Gato  Persa, o Himalaia, o Manx, o Burmês e o Cimric) ao “semi-cobby”, mais comprido e longilíneo (como o Bosque da Noruega ou o Ragdoll). Existe ainda o “foreign” (estrangeiro), longilíneo, (como o Abissínio), o “semiforeign” (semi-estrangeiro), bastante longilíneo mas de estrutura óssea relativamente forte, (como é o caso do Devon Rex, do Mau egípcio, do Singapura, bem como do Oriental), e ainda o muito longilíneo e esbelto como o Siamês.

Ativo, tranquilo, brincalhão, qual escolher? 

Entre os gatos ativos incluem-se os turbulentos e expansivos, que gastam as suas energias em casa ou num jardim cercado, não perdendo uma oportunidade para caçar: o American Bobtail, o American Shorthair, o American Wirehair, o Bengal, o Bombaim, o British Shorthair, o Chartreux, o Himalaia, o Laperm, o Manx, o Munchkin, o Ocicat, o Oriental de pêlo curto, o Cornish Rex, o Singapura, o Selkirk Rex e o Snowshoe.

Esta categoria dinâmica engloba também os gatos brincalhões, animais naturalmente alegres, que tomam parte nas brincadeiras das crianças ou inventam jogos no seu agregado: o Angorá turco, o American Curl de pelo curto, o Bobtail japonês de pêlo curto, o Bombaim, o Burmês, o Gato da Sibéria, o Exotic Shorthair, o Ocicat, o Persa Chinchila, o Devon Rex, o Cornish Rex e o Scottish Fold. Os gatos independentes também fazem parte desta categoria, porque embora sejam eles próprios a organizar os seus horários, uma vez terminada a sesta já não têm um minuto de descanso…: o Califórnia Spangled, o Gato da Sibéria, o Cimric e o Europeu.

Pelo contrário, existem gatos dependentes, possessivos e extremamente ligados ao dono, por quem sentem uma enorme admiração: o Abissínio, o Angorá turco, o Azul Russo, o Havana Brown, o Korat, o Manx, o Negro Russo, o Olhos Azuis, o Oriental de pelo curto, o Persa Chinchila, o Selkirk Rex, o Somali, o Sphynx e o Tonquinês.

Outros gatos estendemo seu campo de amizade a todos os habitantes da casa, englobando a família e outros animais: o Balinês, Burmês, o Cimric, o Maine Coon, o Scottish Fold, o Skogkatt e o Snowshoe. Não é raro que estes gatos, muito sociáveis, se exprimam através da voz, interpelando os donos como forma de estabelecer o diálogo. De entre a população felina, os mais loquazes são o gato de Bali, o Burmila, o Mandarim, o Oriental de pelo curto, o Siamês e o Skogkatt.

Mas existem outros que preferem refugiar-se na sua interioridade e mergulhar numa meditação profunda, o que aumenta ainda mais o seu mistério. É o caso do Abissínio, do American Curl, do Mau egípcio e do Somali.

Finalmente, alguns gatos gostam de viver em paz, ao abrigo da agitação, e detestam conflitos: o Birmanês, o Bobtail japonês de pelo comprido, o Negro Russo e o Persa. Poder-se-ia ainda citar outras características, destacar os gatos ágeis, curiosos, equilibrados, brincalhões, empreendedores, atentos…

A forma da cabeça (redonda no gato Europeu e triangular nos Siameses) também faz parte das características descritivas. O mesmo acontece com a cor dos olhos e o tamanho da cauda (larga no Skogkatt e inexistente no Manx), sem nunca esquecer o tipo de pelagem.

A pelo pode ser longo e atingir 15 cm de comprimento (Persa e Himalaia), ser semi-longo (Angorá turco) ou curto (Europeu, Chartreux). Estão descritas as cores autorizadas para cada raça. A gama de tonalidades é muito vasta: unicolores, bicolores, multicolores (tartaruga, “smoke” ou fumo) ou de cor de prata (como é o caso do Persa Chinchila). Quanto ao padrão da pelagem, este pode ser: “colourpoint” como o gato Siamês, “tabby” como o Europeu, ou seja, tigrado, mosqueado, com manchas ou ainda riscas largas ou finas.

Divulgação das raças e comportamento do gato

A divulgação das raças, que surgiu de forma bastante tardia na história da domesticação, foi acompanhada de uma alteração no comportamento do pequeno felino. Muito embora o carácter do animal não figure nos standards estabelecidos pelas associações felinas, não se trata de um simples pormenor. Durante um concurso, o comportamento do gato pode ter como consequência a sua desqualificação. Se o candidato se mostrar insubmisso ou agressivo, terá poucas hipóteses de alcançar um lugar no pódio. Na vida quotidiana, o comportamento do animal é tão importante como a sua beleza. Como tal, o comportamento é um critério fundamental no momento da escolha do gato.

Em vias de uma classificação comportamental

Muito embora continue a ser algo controverso no mundo felinó filo, tem-se vindo a verificar uma certa tendência para classificar as raças em função do seu comportamento. Essa classificação permitirá ao dono fazer uma escolha mais adequada do tipo de gato pretendido. Os critérios são variáveis e indicam as particularidades felinas que são mais ou menos acentuadas. Muitas vezes, o grau de sociabilidade está
incluído nesta classificação, bem como a dualidade ativo calmo.

No que se refere à questão das raças e respectivo tipo de carácter, as opiniões dos especialistas dividem-se, devido ao facto das raças felinas não serem encaradas como uma particularidade genética, mas sim com o resultado da seleção feita pelos criadores.

Por exemplo, não se pode negar que o Siamês possui um carácter específico. Tagarela incansável de voz rouca, é ideal para o dono expansivo. É também um excelente interlocutor para pessoas sós ou idosas. O Skogkatt, gato refinado e rústico, desperta o gosto pela natureza. Agrada aos citadinos que aproveitam as suas horas de lazer para tratar do jardim. O Ragdoll, gato de carácter pacífico, é um cúmplice maravilhoso das crianças, sendo muito procurado pelas pessoas calmas que detestam grandes alvoroços.

Constatamos que o gato se vai  progressivamente educando, que aprende bem o que se lhe ensina e que manifesta grande interesse pelas atividades humanas. Gosta de música e possui mesmo os seus próprios CDs, através dos quais participa em sequências  interativas” de caça! Como se pretendesse despertar o seu instinto de predador…

O gato escolhe o dono 

O gato também tem direito a manifestar a sua opinião. No seio de uma família, elege os seus preferidos. Algumas vezes, ainda no gatil do criador, o gatinho aproxima-se do seu futuro dono e recusa-se a abandoná-lo. É desta forma que se estabelecem duos absolutamente perfeitos, havendo uma completa compreensão entre o animal e o dono. Muito intuitivo, o gato é capaz de delinear o ser humano e apercebe-se das possíveis afinidades que partilha com o seu protector. Chega mesmo a ter uma certa influência sobre o homem, tornando-o dependente da sua presença. Ao contrário do ditado “tal dono, tal cão”, poder-se-á dizer “tal gato, tal dono”.

Grande parte da população de gatos  domésticos não tem dono, dispondo apenas do apoio de benévolos das associações protetoras. Formam a componente essencial da população felina errante.

Um indivíduo por inteiro 

Elegante e calmo, o gato de raça suscita admiração e desfruta do respeito do seu dono. Dotado de pedigree e de um nome original e imponente, frequenta os pódios ao lado dos campeões da sociedade felina.

O gato de raça, símbolo de um determinado valor material, é mantido dentro de casa, protegido de todos os perigos e tratado com consideração. De pelagem cuidada e corpo saudável, aprecia uma alimentação adaptada. Para este animal nada é excessivamente belo e todos os carinhos são bem-vindos. O gato é um rei e todas as honras lhe estão reservadas. Mas ao contrário do cão, o gato sabe distinguir as situações. A sua liberdade permanece intacta graças ao seu mundo imaginário. Este facto permite-lhe manter as distâncias, sem no entanto ofender o seu protetor.

O gato doméstico, incontornável e eterno

Eis o gato mais popular e o mais comum! Dos 8 milhões de gatos estimados no território francês, apenas 2 a 3% – o que representa aproximadamente 200 000 animais – são de raça (Persas, Siameses, Birmaneses…). O gato doméstico representa a maior parte da espécie felina! Mas este grande número não se traduz necessariamente numa maior atenção por parte dos seres humanos, bem pelo contrário. O gato doméstico deve a sua primazia à sua formidável resistência – enfrentou inúmeras provações ao longo da sua história, que ainda subsistem atualmente – e sobretudo à quase inexistência de qualquer controlo de natalidade.

Livre e sem valor monetário

O gato doméstico é o mais livre de todos. Contudo, essa liberdade tem um preço. De uma forma geral e comparativamente aos gatos de raça, recebe menos cuidados uma vez que os seus proprietários (termo a aplicar de forma muito desprendida) não dão grande importância nem às suas ausências nem aos progressos feitos na área da investigação veterinária, quer ao nível da saúde ou da alimentação deste animal. Não é verdade que desde há séculos que este animal está acostumado a desenvencilhar-se sozinho ou a contentar-se com as sobras? O gato doméstico não possui um valor monetário. É um gato que não se compra, é oferecido ou adaptado. Muitas vezes, é ele próprio que escolhe espontaneamente instalar-se em casa de alguém. Para muitos proprietários, os gatos domésticos não representam qualquer responsabilidade financeira. Não se preocupam em vaciná-los ou tatuá-los, em prestar-lhes cuidados de saúde, muito menos em castrar os gatos ou esterilizar as gatas.

E no entanto, gostamos dele

Paradoxalmente, o gato doméstico suscita nos verdadeiros donos uma paixão muitas vezes exclusiva: “Prefiro os gatos domésticos aos gatos de raça, tal como prefiro as pessoas normais aos modelos da Chanel”, afirmava o escritor Remo Forlani com um humor implacável.

E não é o único!

Ter um gato doméstico em casa é uma tradição familiar que muitos não conseguem evitar. Apreciam nele o gosto pela independência, o desembaraço lendário e o seu aspecto rústico e vigoroso. Gostam também da sua originalidade, uma vez que dois gatos domésticos nunca são iguais. É o gato por excelência, sem vaidades nem disfarces físicos ou morais. Se um belo dia perderem o seu companheiro, terão o reflexo de procurar um sucessor entre os da sua raça.

Um progenitor esquecido?

No final do século XIX, com a realização das primeiras exposições felinas na Grã-Bretanha e mais tarde em França, compostas fundamentalmente por Persas (que substituíram os Angorás), Siameses, algumas espécies selvagens como o Margay, e também por gatos domésticos selecionados em função da sua beleza, as mentalidades evoluíram um pouco. No entanto, dever-se-á dizer que apenas alguns burgueses gostavam de mostrar o seu gato em público!

Pouco a pouco, o gato doméstico, sem origens conhecidas e portanto sem pedigree, viu-se afastado dessas atividades mundiais em proveito das novas raças muito mais exóticas e valorizadas. Mas, se pudéssemos regressar ao cume da árvore genealógica dos nobres pequenos felinos, ou até a alguns ramos intermédios, deparar-nos-íamos com humildes gatos domésticos dos quais herdaram uma coloração ou uma pelagem específica.

Que temperamento!

É difícil avaliar o temperamento de um gato doméstico, porque este é tão fantasista como a sua aparência. Uns são mais calmos, outros mais extrovertidos, silenciosos ou pelo contrário “tagarelas”, sociáveis ou ariscos, mais ou menos carinhosos. O seu lema é “Gosta de mim tal como sou, porque sou imprevisível!”. Em contrapartida, não tenha dúvidas que adorará caçar: é a sua verdadeira natureza de gato. Algumas pessoas pensam que um gato doméstico não se adapta à vida num apartamento. No entanto, ele habitua-se ao novo meio da mesma forma que um gato de raça. Procure reorganizar o interior da sua casa em função do novo morador: como os gatos adoram trepar, é necessário proteger a sua mobília. Arranje um poste para arranhar proporcionando-lhe longos momentos de brincadeira na sua
companhia.

O seu gato doméstico em exposição

E porque não expor o seu gato doméstico junto dos seus nobres confrades? Foi-lhe mesmo atribuída uma categoria: a classe dos “gatos de casa”. Para poder concorrer, o animal deverá ser esterilizado, saudável, fácil de manipular (com um carácter agradável) e ter um aspecto simpático. Tente a sua sorte, pois o seu gato poderá proporcionar-lhe o prazer do pódio, tal como um gato de uma estirpe mais nobre!

As seus momentos de glória

Em 1935, um veterinário do Havre, o Dr. Adrien Loir fundou o clube do gato “rateiro” da Normandia no intuito de melhorar e preservar as qualidades do Gato de França, que na época também se designava por Gato Francês. Este caçador de ratos era apreciado pela forma agressiva como eliminava a bicharada existente nas docas do porto de Havre, o que permitia grandes economias. Outras instituições, como a rede ferroviária francesa, os grandes armazéns, as fábricas de seda de Lion, o Palácio Bourbon em Paris e o Museu de História Natural do Havre utilizaram também, e com muito êxito, os serviços destes felinos “rateiros”. O Dr. Loir tinha esperança que as proezas deste animal fossem reconhecidas, e escreveu: “Não se deveria atribuir ao gato o mérito de ser reconhecido como um animal de utilidade pública?” Infelizmente, o seu sonho não se realizou!

Raças tão curiosas como os Rex ou o Scottish Fold nasceram no campo e provêm de ninhadas de gatos domésticos!Apelagem“tabby” do Siamês ou do Birmanês, que habitualmente se designa por “tabby point” é proveniente do gato doméstico! A cor tartaruga galhardamente envergada pelos Persas também tem a sua origem nos “gatos comuns”! O mesmo se passa com a pelagem bicolor. E o que fica para os gatos domésticos? A honra, insuficientemente reconhecida, de ter contribuído para a criação ou melhoramento da maior parte das raças de gatos, especialmente daquela que deles deriva diretamente, a raça Europeia. Desenganem-se em relação a um ponto importante: o gato de raça Europeu não é um gato de raça indeterminada. Portanto, é incorreto chamar os gatos domésticos de gatos Europeus.

Com todos os tipos de pelo e cores de pelagem, o gato doméstico constitui a própria expressão da tolerância: tudo lhe fica bem! Unicolor (negro, branco, ruivo, azul, tartaruga, etc.), bicolor com manchas brancas distribuídas de forma não uniforme, tigrado de pelo curto ou pelo comprido, com a cabeça redonda ou, pelo contrário, um focinho afilado, com orelhas de ursinho de peluche ou antenas de televisão, um corpo atarracado ou um porte de gazela…tudo serve ao gato doméstico que, contrariamente aos gatos de raça, não possui qualquer norma em termos de “vestuário”.

O Europeu e o gato doméstico

O standard para o gato Europeu foi elaborado com base nas características comuns do gato doméstico. O padrão da Federação Internacional Felina (FIFe) especifica em particular que: “O gato Europeu ideal nunca deve ser cruzado com outra raça. A sua criação deve basear-se no facto de que se trata de um animal robusto, flexível e que, do ponto de vista anatômico, não é diferente do gato doméstico europeu”. Mas, dever-se-á também ter em conta que o gato doméstico, contrariamente ao Europeu, não se enquadra em nenhum standard, não sendo obrigado a obedecer a qualquer critério específico. A sua pureza raramente é demonstrável, sobretudo hoje em dia com a multiplicação das raças. Assim se explica que por vezes, os donos de um gato com uma pelagem semilonga estejam convencidos que o animal poderá descender do Gato dos Bosques da Noruega ou do Maine Coon, sobretudo quando é tigrado, ou do Angorá turco, quando é unicolor. Na população dos gatos domésticos, é frequente encontrar um padrão siamês (muitas vezes misturado com manchas brancas), fato plausível se ambos os progenitores forem descendentes de Siameses. No entanto, este gato não pode ser considerado um Siamês puro.

A raça mais antiga do mundo

E não terá ele orgulho por ser simplesmente um gato doméstico belo e perfeito? Não é um fato  que se trata da raça mais antiga do mundo? Os Americanos e os Ingleses conseguiram resolver o problema. O gato americano equivalente ao Europeu denomina-se American Shorthair (Americano de pelo curto), e o equivalente britânico tem o nome de British Shorthair (Britânico de pelo curto). Tal como o gato Europeu (na realidade, um termo bastante impreciso), ambos os animais têm origem no gato doméstico.

Mas tanto os Ingleses como os Americanos conseguiram selecionar as duas raças de gatos, sem que estas se prestassem a tantas confusões como em França. É verdade que o American Shorthair e o British Shorthair, tal como existem na atualidade, já nada têm a ver com o modelo de base. O problema do Europeu é, sem dúvida, o facto de ter permanecido muito mais próximo. Porque não imaginar então que a raça do Gato Europeu, finalmente livre de qualquer mestiçagem resultante da aparição de novas raças, poder-nos-ia fazer recuar no tempo e aproximarmos do gato doméstico original, na época em que este era o único e indispensável representante da espécie felina?